sexta-feira, 25 de março de 2011

PSICANÁLISE PARA TODOS - Transferência e afeto

O que é transferência?
Transferência é tudo aquilo que surge e resulta do encontro entre duas pessoas num tratamento psicanalítico que dá combustível à engrenagem clínica. É com a força da transferência que nasce a relação de significados, desejos e caminho de uma possível cura  entre dois estranhos.
Dentre esses estranhos se encontra a figura do analista que tem o dever e a responsabilidade de, além de "sentir com", "estar com", "fluir com" o paciente, não deixar que a grande boca sedutora transferencial os abocanhe de forma fulminante. 
É talvez o encontro clínico entre analista e analisando a relação profissional mais complexa que existe. Muito me faz lembrar o encontro entre a prostituta e seu cliente que ao mesmo tempo em que se despem para realizarem o encontro intimo corpóreo, se vêem na necessidade de um limite emocional de vinculação entre os dois na cena. Aliás, essa necessidade se faz num sentido de autopreservação de ambos. Muitas vezes esse limite é rompido e ....
Diferentemente do encontro da prostituta e do cliente, o encontro transferencial analítico é um mergulho de ambos numa intimidade emocional ao mesmo tempo mágica e perigosa que se não observada de forma implacável pode ser fatal ao tratamento e ainda ser iatrogênica para o paciente. Isso é uma das várias responsabilidades que possui o analista, pois é ele que tem o dever de "guiar o barco do encontro".
A transferência aparece como uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que é a chave mestra para o desenvolvimento do tratamento, pode ser o vilão impedidor da relação, se não trabalhada incessantemente pelo analista.
Certo dia, ouvi uma frase muito interessante “O paciente tem o direito de ter suas resistências.” . Ou seja, ele possui o direito liquido e certo de fantasiar com todo aquele material criado/oferecido naquele setting. É justamente aí que se encontram as regras fundamentais da livre associação, da atenção flutuante, os limites espaciais, o tempo da sessão, o divã, entre outros que servem de corrimão para o analista se apoiar na condução desse bicho chamado transferência.
Como ser o pai, o amante, a amiga, o chefe, a vizinha chata, o ladrão, entre outros, e ao mesmo tempo ser um analista dotado de nome, telefone e endereço? Uma confusão um tanto quanto imprescindível de ser minimamente arrefecida para gerar os tão buscados significados. Ufa, que linha tênue essa... 
No primeiro momento, Freud se espantou com a força que a transferência gerava nos encontros, vislumbrando ser ela uma impossibilitadora de continuidade de análise. Porém, aos poucos foi percebendo nela a melhor forma de se chegar ao objeto mais buscado e valorizado em análise – O AFETO.
É através da transferência que o paciente tira sua roupa emocional e consegue expor suas vergonhas, suas intmimdades, seu verdadeiro eu. 
Transferência essa delicada, hein! 
Dependendo de como é conduzida pelo analista, ela pode ser absolutamente desastrosa ou ser de fato a   consolidação de um rumo buscado em processo.
Análise é isso. Amar, odiar, repudiar, envergonhar, seduzir, mentir... Porém, sendo tudo isso traduzido, significados, ressignificado e dialogado no encontro.

Eis que vem a transferência e tira a roupa do analista também...
Bom, cenas de um próximo capitulo.
RC Spitz